Monday, August 23, 2004

Depois da terceira garrafa de solanácea, saímos do galpão. Para trás, uma estante de livros, aquecedores que desprendem um gás pavoroso, um anão esquisito que havia me servido as solanáceas, um ensaio de neblina, sorrisos conhecidos, o frio e o atalho.

Na falta de ônibus, um táxi. E, dentro do táxi, os Pixies. O som da voz de Jacks misturado à minha. Chegamos na posuda casa da diversão. Todos com seus devidos nomes. Minha perversão batizou-me de Priscila e ao Capitão Zimarius de Daniel.

O desastre aconteceu quando meu energético passou de oito para oitenta reais, aquela maldita comanda perdida. Lembrei do que deveria significar cara de nojinho enquanto chorava aos pés dos porteiros: "Mas para quê você foi inventar um nome falso, garota? Agora fica difícil acreditar. Não que você esteja mentindo, mas são as normas da casa..."

O Capitão quase estraçalhou garrafas, os Escritores se divertiam bebendo e alimentando o juke box. Vez por outra, alguém lembrava de consolar meu susto me oferecendo um gole ou sacudindo meus braços para o groove.

Dentro do susto era assim: uma esbaforida que abria e fechava cortinas de feltro com o olho embaçado. Se disser mil vezes que não é comigo, vai embora.

Consegui minha passagem de volta do inferno quando já era tarde para os Escritores. Lá estava ela, suja com o xixi de mademoiselles. Agora eles iam embora e eu escolhi me divertir com Jacks e seu pecado.

Porque ele não tem um terço dos meus falsos moralismos, fala poesia sem mascar a própria língua, gosta de futebol. E, afinal de contas, do que mais preciso além de algumas garrafas de solanáceas para dançar com sujeitos de sapato bicolor, conhecer os amigos espanhóis de seu pecado e descobrir um convite de Hank emoldurado na parede do inferninho?

Ao lado de listras brancas e vermelhas.....
Jacks me leva até a lanchonete da véspera para que possamos devorar sanduíches de filé de frango enquanto eu filosofo sobre amor, como se soubesse alguma lhufa a respeito. Antes da estação Paraíso, ele me recobra a consciência e diz o indizível. Com o qual tudo o que resta à minha confusão infinita é um sorriso piegas de despedida.

Monday, August 09, 2004

encontrar capitão zimarius na cidade de asfalto e frio noturno. encontrar lang na garoa. encontrar ana-log na selva de pedra. encontrar a orixá doce, bruxíssima, no meio de uma alegria gratuita.

mombojodiar pelo menos por um par de dias. para ver se espanto todas as interrogações, que agora me abraçam de um jeito incômodo, todas as vezes que essa rede me mostra, num tapa, que não adianta brincar de frau quando todas as correções posturais convergem para engarrafamentos, queixumes costumeiros e uma ou duas boas sequências de gozo, grito e olho virando.

quero pastilha derretendo debaixo da língua.
quero ler garranchos miúdos nas placas de aviso.

sussurre por aqui. sussurre sempre. com a maravilhosa língua úmida no seu lóbulo, você poderá chorar de maneira intermitente, simples e escandalosa. oferecemos todas as garantias.

lang fala de um jeito estranho, como se nosso hálito junto ficasse suspenso por uma eternidade cifrada. não temos coragem de dizer nada. eu deleto sua poesia, porque tenho medo do futuro e tenho calafrios. ele é um velho marinheiro espacial e eu uma devoradora de bananas da prata.

na verdade, eu sou um arremedo dele. uma língua firme, nervosa e proibida.

Quem?

Diário de uma membrana. Especulações sobre surtos homeopáticos.